Porque estou sempre a lacrimejar?
A lágrima, após ser produzida e permanecer em contacto com a superfície ocular, é drenada a partir da porção interna das pálpebras até à cavidade nasal.
Nalgumas circunstâncias essa via pode ficar obstruída conduzindo a queixas intermitentes ou persistentes de lacrimejo (nestes casos denominado de epífora). A identificação da origem exata desse lacrimejo é fundamental, uma vez que o excesso de lágrima pode ser causado não por uma deficiente drenagem mas antes por uma hipersecreção, associada por exemplo a alterações da superfície ocular. Desta forma, perante queixas de lacrimejo excessivo ou sensação de “olho húmido” torna-se importante um exame oftalmológico detalhado para a identificação da causa e orientação terapêutica.
Que tipos de obstrução da via lacrimal existem?
A obstrução pode ser superior ou “alta”, localizada nos pontos lacrimais ou canalículos na porção interna das pálpebras, ou mais frequentemente inferior ou “baixa”, no canal lacrimonasal, onde a lágrima circula antes de atingir a cavidade nasal. Na maioria dos casos não é possível identificar uma causa exata para estas obstruções, contudo traumatismos, infeções, inflamação crônica, uso de colírios, quimioterapia, entre outras causas, podem estar na sua origem.
Quais os sintomas de uma obstrução da via lacrimal?
As manifestações são variáveis. A queixa mais frequente é o lacrimejo persistente ou intermitente que se pode agravar em determinadas condições (vento, frio, ar condicionado…), sensação de “olho húmido”, visão turva, irritação ocular. Podem igualmente existir antecedentes de conjuntivites de repetição, ou seja, vários episódios de olho vermelho e secreções que o tratamento médico (gotas) só alivia de forma temporária. Desta forma, perante um quadro de conjuntivite crónica ou recorrente torna-se importante excluir uma obstrução da via lacrimal.
Uma das complicações da obstrução permanente da via lacrimal inferior é o desenvolvimento de uma infeção secundária do saco lacrimal (dacriocistite). É identificada pelo aparecimento de uma tumefação inflamatória dolorosa na região interna da pálpebra inferior e exige tratamento antibiótico sistémico.
Como posso tratar definitivamente uma obstrução da via lacrimal?
O tratamento é cirúrgico e a técnica utilizada depende da localização da obstrução.
Obstrução “baixa” ou inferior (a mais comum): está habitualmente indicada uma dacriocistorrinostomia (DCR), procedimento que visa criar um novo canal de drenagem entre o saco lacrimal e a cavidade nasal. É realizada sob anestesia geral, sendo a taxa de sucesso superior a 95%. A DCR pode ser realizada via endonasal (endoscópica), sem incisões cutâneas e com uma rápida recuperação, ou via externa, através de uma incisão cutânea de 10 mm que fica quase impercetível após a cirurgia.
Obstrução “alta” ou superior (pontos lacrimais e canalículos): o procedimento é selecionado caso a caso. Pode ser necessária uma conjuntivorinostomia, com a colocação de um “Tubo de Jones”, um dispositivo que permite uma comunicação direta entre a porção interna da fenda palpebral e a cavidade nasal.
É rápida a recuperação após a cirurgia?
O tempo de recuperação é variável. Dada a rápida recuperação, sem necessidade de incisão cutânea, a cirurgia endoscópica é atualmente a nossa primeira opção na abordagem à via lacrimal.